O nascimento simboliza a transcendência da condição humana e a verdade é que todos nascemos, todos fizemos a longa e formidável viagem que nos trouxe até ao útero materno, todos vibrámos, sofremos e nos transfiguramos naqueles momentos mágicos. Nós e os que mais nos querem. Não se assiste ao nascimento nem ao crescimento de um filho: participa-se. Não há formas ambíguas de estar na maternidade ou na paternidade. não há meias-tintas ou faz de conta. ou se é mãe e pai de corpo inteiro, de alma inteira, de disponibilidade e de convicção - e de amor, afeto, gozo, estima e empenhamento - ou distraímo-nos e passamos ao lado da coisa mais importante da coisa.
Não ha nenhum projecto que nos realize tanto, nem trabalho, nem uma pintura, nem um livro, nem uma catedral. Um filho representa a nossa continuidade, a hipótese de sermos lembrados durante mais tempo, por mais pessoas e de deixarmos uma impressão digital no mundo tantas vezes incompreensível e em relação ao qual desde cedo perdemos a sensação de omnipotência, face à angústia existencial da certeza da finitude do tempo...
Mário Cordeiro, Pediatra
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